GERALPOLÍCIA

Treze mulheres são vítimas de violência sexual a cada dia em Minas Gerais

A prisão preventiva de um pastor de 51 anos, suspeito de abusar sexualmente de pelo menos dez fiéis, revela que o combate ao ato de covardia ainda é um desafio para as forças de segurança mineiras. A cada dia, 13 estupros ou tentativas são registrados no Estado. De janeiro a novembro do ano passado, 4.486 queixas foram prestadas na polícia.

Os dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) indicam alta de 9% nas notificações na comparação com o mesmo período de 2016. A maioria dos crimes é contra vulneráveis. Mais de 63% das vítimas tinham menos de 14 anos, alguma enfermidade ou deficiência mental, sendo incapazes de oferecer resistência. 

Para a delegada da unidade especializada de Combate à Violência Sexual, Larissa Mascotte, a maior notificação se deve à conscientização das mulheres. “As pessoas estão mais encorajadas. É muito importante que as vítimas denunciem para que o autor não fique impune e cometa o mesmo delito”, destaca.

Lei mais rígida

Além disso, uma mudança na legislação, ocorrida em 2009, pode ter contribuído, aponta o professor da PUC Minas e especialista em segurança pública Luis Flávio Sapori. 

“Como a conjunção carnal não é mais um critério definidor de estupro, os registros subiram em todo o Brasil. Hoje, uma abordagem sexual, uma tentativa mais agressiva e um assédio mais duro também são considerados crimes”, explica.

O professor defende que o aumento dos casos seja acompanhado de campanhas de incentivo às denúncias e também de agilidade nas instâncias judiciais. Para ele, os estupradores precisam ter a certeza de que serão punidos.

“Elas (vítimas) se sentiam coagidas porque ele (pastor) dizia que era muito influente, que tinha conhecidos na polícia”
Larissa Mascotte
Delegada

A ascensão dos crimes preocupa a Polícia Militar. Em 2017, a corporação criou uma companhia de prevenção à violência doméstica. Um dos objetivos da patrulha é fazer o acompanhamento das ocorrências.

“Se a pessoa agredida precisa pedir uma medida protetiva de afastamento, por exemplo, nós fazemos essa intermediação com o Ministério Público”, afirma o capitão Cristiano Araújo, chefe da Sala de Imprensa da corporação. O oficial garante que a PM realiza reuniões com a comunidade para orientar as pessoas.

Crime

O pastor preso nessa terça-feira (13) em BH era da Igreja do Evangelho Quadrangular e atuava há 25 anos. Atualmente, pregava na unidade do bairro Salgado Filho, na região Oeste. Há suspeitas de crimes contra mulheres com mais de 30 anos, adolescentes e até crianças. 

Uma delas teria relatado à polícia que os abusos começaram quando ela tinha apenas 12 anos e duraram até os 16. A primeira denúncia chegou à delegacia em maio de 2017. O pastor ficou conhecido entre as mulheres como o “maníaco da orelha”, porque tinha o costume de lamber essa parte do corpo das vítimas.

Além Disso

O pastor seguirá preso preventivamente até o fim das investigações. Caso seja comprovado o crime, o homem deve responder por estupro de vulnerável, com pena que pode chegar a 15 anos de cadeia, estupro simples, com até dez anos de reclusão, e importunação ofensiva ao pudor, com o pagamento de uma multa.

O advogado do pastor, Ademir Lataliza, alega que o cliente está “sendo levado por uma grande orquestração feita por várias pessoas que têm problemas particulares com ele”. O defensor diz ainda que está processando as mulheres que denunciaram os supostos abusos por calúnia e difamação.

Em nota publicada no site oficial, a Igreja do Evangelho Quadrangular informou que só teve conhecimento das condutas do pastor quando as acusações vieram a público, por meio da imprensa. A instituição garante que o líder religioso está afastado para que os fatos sejam apurados. A Quadrangular ressaltou, ainda, que nunca recebeu denúncia sobre o pastor nos 25 anos de vínculo com a igreja.

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