Hora de parar: Decisão de largar o cigarro pede foco, determinação e ajuda profissional
Pelo trigésimo ano, é celebrado o Dia Mundial Sem Tabaco, data criada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 31 de maio de 1987 para chamar a atenção aos males causados pelo fumo.
Os prejuízos à saúde gerados pelo cigarro são responsáveis por uma em cada dez mortes no mundo, conforme pesquisa publicada no último mês de abril da revista científica “The Lancet”.
O estudo analisou 195 países entre 1990 e 2015. As nações que mais acumulam estatísticas ruins em relação a mortes são China, Índia, Estados Unidos e Rússia. Metade de todos os óbitos gerados pelo tabagismo ocorre nessas regiões.
O Brasil, de acordo com o levantamento, ocupa a oitava posição no ranking em número absoluto de fumantes: 7,1 milhões de mulheres e 11,1 milhões de homens. O país está na publicação como um exemplo de sucesso no combate ao tabagismo.
Para os pesquisadores, os altos impostos sobre o produto e os alertas de danos nos maços de cigarros foram responsáveis por boa parte da queda percentual de fumantes: 29% para 12% entre homens e de 19% para 8% entre mulheres, aponta o estudo.
Tóxico
O cigarro possui mais de 4,7 mil substâncias nocivas ao organismo. A droga lícita é responsável por parte dos diagnósticos de câncer de boca, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas e fígado, por exemplo.
6 milhões de pessoas morrem em decorrência do tabagismo a cada ano, conforme a OMS; sem ações de combate, número pode evoluir, até 2030, para mais de 8 milhões
“Além de prejudicar a própria saúde, o indivíduo que fuma expõe outras pessoas à fumaça do cigarro e as torna tabagistas passivos, triplicando a probabilidade de contrair a doença”, pontua Miguel Torres, radio-oncologista da Radiocare.
Os fumantes também são mais suscetíveis a doenças periodontais. “O tabaco é extremamente prejudicial às células da mucosa da boca. Na fumaça, são identificadas pelo menos 40 substâncias tóxicas, no mínimo, cancerígenas”, enfatiza a cirurgiã-dentista Sílvia Reis.
Programa
Os conhecimentos sobre os males causados pelo cigarro não impediram a estudante Pollyana Araujo Leroy Ribeiro, de 21 anos, a começar a fumar aos 17, mesmo com histórico de problemas respiratórios e uma suspeita de trombose.
Há dois meses, a jovem conseguiu parar com o cigarro ao participar do Grupo de Cessação ao Tabagismo da Unimed-BH, serviço oferecido aos clientes do plano de saúde.
“Hoje, já sinto uma redução dos problemas para respirar, melhora na autoestima, nos cabelos, na pele. Foi preciso muita força, inspiração e vontade”, revela Pollyana.
Obter o mesmo sucesso da estudante é a expectativa vivida pela administradora Maria Claudia de Carvalho Simões, de 37 anos, que fuma um maço de cigarros todos os dias e está para iniciar o processo no mesmo programa da Unimed-BH.
“No ano passado, tive três princípios de pneumonia. Neste ano, já tive uma. Fumo desde os 17 anos e percebi que, sozinha, não seria possível parar”, confessa.
Além da vontade própria, Maria Claudia conta com o apoio e os constantes pedidos do filho de 12 anos e da mãe, que sofre de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e sente os prejuízos da fumaça do cigarro.
Tratamento
“O tabagismo é uma doença e deve ser tratado assim. O fumante pode normalmente procurar um hospital, um médico para se tratar. Não é falta de vergonha na cara”, afirma o clínico geral José Francisco Zumpano, membro do Grupo de Cessação ao Tabagismo.
Conforme o especialista, é preciso que a decisão de parar de fumar seja firme e bem pensada. É um processo que envolve investimento de tempo e dinheiro. “É como a realização de um sonho. Você investe, traça uma meta, mantém o foco e coloca na ‘agenda’ quais os obstáculos irá enfrentar”.
As atividades promovidas pelo grupo foram projetadas com base em evidências científicas. O tratamento utilizado foi, por comparação com outros disponíveis, entendido como mais eficaz pela equipe. São sete sessões a que os pacientes são submetidos.
A primeira é uma palestra de motivação. Depois, uma consulta individual com médico especializado que irá prescrever uma medicação adjuvante e programar , junto ao paciente, um escalonamento de retirada gradual do cigarro, que varia de 7 a 15 dias após o início do remédio.
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