ECONOMIA

PIB apresenta primeiro resultado positivo após dois anos

A economia brasileira registrou uma alta de 1% no primeiro trimestre deste ano, o primeiro sinal positivo após dois anos consecutivos de retração, que somavam 7,2% de queda até o final de 2016. O alento, porém, ainda é incerto. Na comparação com igual período do ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) recuou 0,4%, segundo dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileira de Geografia e Estatística, (IBGE). No acumulado de quatro trimestres, a queda é de 2,3%.
A melhora na atividade econômica foi influenciada principalmente por uma ótima safra que impulsionou o desempenho da agricultura brasileira. O setor destoou dos demais indicadores, com uma alta de 13,4% em relação ao trimestre anterior, fruto de uma safra recorde de soja. Mas nos demais índices, o avanço ainda se mostra frágil. Pelo oitavo trimestre consecutivo, todos os componentes que medem aumento de demanda interna ficaram no vermelho. No primeiro trimestre de 2017, o consumo das famílias continuou caindo e apresentou uma retração de 1,9%. A alta do desemprego, com 14 milhões de pessoas sem trabalho, explicam a queda.

O investimento das empresas também mostra redução pelo décimo segundo trimestre, com um recuo de 3,7% em relação ao primeiro trimestre do ano passado. A taxa de investimento no período foi de 15,6% do PIB, abaixo do registrado no primeiro trimestre de 2016 (16,8%). Ela é a menor registrada desde 1995.

Na opinião de Otto Nogami, economista do Insper, tecnicamente não há motivos para celebrar os dados já que o avanço do PIB ainda não sinaliza uma mudança de tendência da economia brasileira. “Estamos no fundo do poço. Podemos ter parado de cair, mas isso não é garantia de reversão”, diz. Segundo Nogami, a alta de 1% da atividade econômica ainda não pode ser considerada sustentável, uma vez que os investimentos não param de cair. “Este é o lado mais preocupante. O investimento de produção é o único indutor de crescimento sustentável”.

O resultado do PIB dos três primeiros meses do ano, divulgado nesta quinta-feira, ainda não contempla os acontecimentos recentes pós delação dos sócios da JBS que colocaram o país numa profunda crise política e jogou dúvidas sobre os rumos das reformas econômicas, consideradas essenciais para a retomada econômica.

A nova era de incertezas já provocou efeitos no Banco Central, que decidiu agir com mais cautela ao cortar os juros nesta quarta-feira. A entidade reduziu a taxa básica de juros (a Selic) em apenas um ponto porcentual, para 10,25% ao ano. Antes de vir à tona o escândalo envolvendo o presidente Michel Temer, a expectativa de analistas era de que a Selic seria reduzida em 1,25%.

Apesar de ainda ser precipitado falar em uma melhora econômica, o presidente tentou capitalizar o resultado positivo do primeiro trimestre. Temer comemorou o resultado em sua conta no Twitter nesta manhã. “Acabou a recessão! O Brasil voltou a crescer. E com as reformas vai crescer ainda mais”, disse.

O entusiasmo do presidente, no entanto, não se confirma por enquanto, uma vez que para que o país saia da recessão efetivamente são necessários dois trimestres de crescimento consecutivos. Para analistas, o ajuste do mercado de trabalho ainda continua nos próximos meses, o que gera uma incógnita no ritmo da recuperação. Em relatório para seus clientes, o banco Bradesco destacou que alguns setores ainda sentem o aperto do orçamento das famílias, como é o caso dos supermercado, que registraram queda de 2,3% das vendas no mês de abril, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), e o de voos domésticos, que teve queda de 6,9% entre março e abril, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Por outro lado, na comparação com o mês de março do ano passado, o desempenho dos supermercados e das companhias aéreas é positivo: 6,3% e 2,7%, respectivamente, o que pode sinalizar um desempenho ainda negativo, na linha do “menos pior”.

Em entrevista ao EL PAÍS, o novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, mostrou que novos sobressaltos da crise política não estão descartados. “O que pode acontecer? Se a questão política se agravar, essa curva [de concessão de crédito do BNDES] pode demorar a subir”, afirmou.

EL PAÍS

COMPARTILHAR