Minas está em terceiro lugar no ranking de carga roubada no país
O roubo de cargas já causou prejuízo de mais de R$ 250 milhões nos últimos seis anos em Minas Gerais, segundo levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). A mesma pesquisa aponta que o Estado é o terceiro do país em número de ocorrências, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. O problema se tornou tão grave que, em uma lista de 57 países, o Brasil é apontado como o oitavo com maior risco para o roubo de carga, à frente países em guerra e conflitos civis, como Paquistão, Eritreia e Sudão do Sul. Cigarros, eletrônicos e medicamentos estão entre os itens prediletos dos bandidos que atuam nas rodovias mineiras.
Especialistas, no entanto, apontam que os números podem ser ainda piores. A ausência de um banco de dados nacional sobre registros de ocorrências de roubos de cargas e a falta de integração entre as forças de segurança dos estados – e até dentro deles – provoca divergências nas estatísticas.
O assessor de segurança da Federação das Empresas de Transporte de Carga do Estado de Minas Gerais (Fetcemg), Ivanildo Santos, explica que há casos em que o roubo acontece em Minas, mas é registrado em São Paulo ou na Bahia, onde o motorista é abandonado, dificultando a obtenção de números mais precisos. Ele ainda calcula, baseado nas estatísticas da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), que, só no ano passado, o prejuízo foi de mais R$ 113 milhões no Estado. Em todo o Brasil, pelos dados da associação nacional, em 2016, o valor total de cargas roubadas ultrapassou R$ 1,3 bilhão, em 24.563 ocorrências, sendo 84,68% delas nos estados da região Sudeste.
A Fetcemg ainda não compilou as estatísticas deste ano, mas a estimativa do especialista é que, até agosto, mais de R$ 110 milhões em cargas transportadas foram perdidos para o crime.
Mais caro
O alto número de ocorrências de roubos e furtos de cargas reflete no encarecimento do frete, chegando a impactar no bolso do consumidor. Hoje, o gerenciamento de risco já representa 25% da despesa do frete, e já está, junto com pneu e combustível, entre os três itens que mais pesam para o transportador.
“Está sendo necessário fazer um investimento em rastreadores, centrais de monitoramento e, em alguns casos, até em escolta armada. Uma transportadora que tenha tido dois ou três roubos em um ano já encontra dificuldade para renovar a apólice de seguro. Quando não é negada, o valor é majorado”, diz o assessor de segurança da Fetcemg.
Segundo dados da Firjam, entre 2011 e 2016 foram registrados 97.786 roubos de cargas no Brasil, que geraram uma perda superior a R$ 6,1 bilhões. Este valor representa 5,1 vezes o investimento anunciado pelo governo federal em dezembro do ano passado para modernização e ampliação do sistema penitenciário brasileiro nos próximos anos
Ampliação da violência
impacta no preço do seguro
Cigarros, medicamentos, combustíveis, autopeças e alimentos são, segundo o assessor de segurança da Fetcemg, Ivanildo Santos, as mercadorias mais visadas. Equipamentos eletrônicos também estão na mira dos criminosos, porém, como o próprio Ivanildo explica, por terem maior valor agregado, recebem um melhor tratamento de segurança por parte das empresas de carga.
“Eletrônicos, medicamento e cigarros são mais fáceis de serem vendidos depois de serem roubados, por isso exigem um cuidado maior”, explica Rodrigo Mourad, sócio da Cobli, startup especializada na gestão de frotas. Ele afirma que, para se evitar roubos, as estratégias incluem a demarcação de paradas com tempo cronometrado, o descarregamento de parte da carga durante a rota e até mesmo um algoritmo que identifica o motorista a partir do padrão de condução.
“O sistema entende como a pessoa está dirigindo, como acelera, freia, troca de marcha. É como uma impressão digital, com precisão acima de 90%. No geral, a forma de aumentar a chance de recuperação é tentar identificar o problema o mais rápido possível para entrar em contato com as autoridades”, afirma o especialista, que acrescenta que manter informações em sigilo, como a rota do transporte, é fundamental, pois as quadrilhas são especializadas e conhecem, na maioria dos casos, os alvos em questão.
Prejuízos
Para as transportadoras, as perdas com roubos de carga não ficam restritas ao valor dos produtos. De acordo com Bruna Vieira do Nascimento, coordenadora administrativa da DNG Transportes, de Belo Horizonte, os assaltos sofridos pela empresa desde o início do ano já acarretaram um aumento de 30% nas apólices de seguro. “Só na Região Metropolitana, tivemos um prejuízo de mais de R$ 100 mil com sinistros desse tipo”, conta ela. A empresa transporta somente medicamentos.
“Estamos investindo em tecnologia, colocando rastreamento, gradeando os carros, mas as quadrilhas estão cada vez mais se especializando”, reclama Bruna.
Em recente audiência na Assembleia Legislativa, representantes da Polícia Civil reconheceram que o problema é grave e defenderam uma legislação mais rigorosa para esse tipo de crime. O subinspetor de de Polícia Wanderson Silva destacou a realização de ações de prevenção e repressão, que, de acordo com ele, já teriam garantido uma redução de 45% dos roubos de carga entre julho de 2016 e o mesmo mês deste ano.
Ontem, a Secretaria de Defesa Social foi procurada, mas informou que só teria dados de ocorrências em 48 horas.
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