Aécio na berlinda: alvo de nove investigações, senador mineiro vira réu no STF pela primeira vez
Investigado em nove inquéritos, o senador Aécio Neves (PSDB) tornou-se réu no Supremo Tribunal Federal (STF), pela primeira vez, acusado de corrupção passiva e obstrução da Justiça. Os cinco ministros da 1ª Turma do STF aceitaram a denúncia feita pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e referendada pela atual detentora do cargo, Raquel Dodge.
Aécio é acusado de receber R$ 2 milhões em propina do empresário Joesley Batista, do grupo J & F, e também de tentar atrapalhar as investigações. Há um ano, em ação monitorada da Polícia Federal, o tucano foi flagrado em conversas telefônicas solicitando o dinheiro a Joesley. Segundo o mineiro, seria um empréstimo para pagar advogados. O recurso foi entregue em dinheiro vivo ao primo do senador, Frederico Medeiros, e ao assessor do senador Zezé Perrella, Mendherson Souza Lima. A irmã de Aécio, Andrea Neves, negociou com Joesley o repasse, conforme a acusação. Todos tornaram-se réus.
Para o senador, o desgaste também é político. Interlocutores dizem que Aécio pode não ser candidato nestas eleições. O grupo político do senador lançará Antonio Anastasia ao governo de Minas, pelo PSDB, e negocia com aliados as pré-candidaturas de duas vagas ao Senado.
Ontem, pouco antes do julgamento, as principais lideranças tucanas evitaram associar o caso Aécio à imagem do partido. Imputaram a situação a “uma questão pessoal” do senador mineiro.
“Quando você fala de um companheiro, realmente bate uma tristeza. Agora eu tenho o meu posicionamento de que a Justiça seja feita: para condenar ou para absolver. É isso que eu espero. Eu vejo que é um julgamento fora do partido, é uma coisa pessoal (dele). Ele (Aécio) está tendo toda a liberdade de fazer sua defesa”, defendeu o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO).
O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, disse que a decisão do STF “entristece”, mas enfatizou que não existe Justiça “vermelha ou amarela” e, portanto, é preciso respeitar as decisões dos magistrados. Alckmin negou qualquer constrangimento com a decisão do STF. E também disse que o senador mineiro é quem decidirá seu futuro político. “Cabe a ele (Aécio Neves) definir o que fazer (sobre ser candidato em 2018), como vai fazer”, afirmou.<EM>
Unanimidade
Aécio foi o primeiro integrante da oposição ao PT a virar réu após a prisão do ex-presidente Lula.
Os cinco ministros da 1ª Turma foram unânimes quanto ao recebimento da denúncia por corrupção. “Há transcrições de conversas telefônicas das quais se extrai que estaria tentando influenciar na escolha de delegados da Polícia Federal para conduzir inquéritos alusivos à operação Lava-Jato, buscando assegurar a impunidade de autoridades políticas investigadas. Surgem sinais da prática criminosa”, destacou o ministro relator, Marco Aurélio Melo.
Voto vencido, Alexandre de Moraes foi o único a discordar da obstrução da Justiça.
O advogado de Aécio, Alberto Toron Filho, disse que o simples fato de o cliente ser senador não o impede de pedir dinheiro emprestado a Joesley. Quanto à obstrução de justiça, Toron afirmou que as manifestações de Aécio quanto a projeto de abuso de autoridade são parte da prática de senador.
Por meio de nota, Aécio informou que é acusado “tendo como base ardilosa armação de criminosos confessos”. Também afirmou que irá provar a inocência. “Vou fazê-lo em respeito à minha vida pública, à minha família e aos milhares de brasileiros, e especialmente mineiros, que confiaram em mim durante 32 anos de mandatos consecutivos”, completou.
Já Marcelo Leonardo, advogado de Andrea Neves, sustentou não existir prova contra ela, “apenas a delação”.
Os defensores de Mendherson e Frederico também asseguraram a inocência dos clientes.
O presidente estadual do PSDB, deputado Domingos Sávio, e o ex-presidente, Marcus Pestana, não foram encontrados ontem para comentar a situação eleitoral do partido com a decisão do STF de tornar Aécio Neves réu
Empresa da família de amigo do tucano teria dissimulado doação
BRASÍLIA – A Polícia Federal (PF) encontrou em um HD apreendido na construtora Wanmix, de propriedade de um amigo do senador Aécio Neves (PSDB-MG), extratos bancários que, para os investigadores, sugerem a dissimulação de doação de campanha ao PSDB, em 2014.
Os documentos mostram que no dia 24 de junho daquele ano a empresa Conserva de Estradas recebeu um depósito de R$ 1,5 milhão do Consórcio Cowan Conserva. No mesmo dia, a empresa repassou a mesma quantia para o diretório nacional do PSDB.
As informações constam em uma petição enviada pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, ao ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, em 9 de abril. No documento, a PGR solicita que os extratos sejam anexados aos inquéritos em que o senador é investigado, entre eles, o que deu origem à denúncia que a Primeira Turma do STF analisou ontem.
Os documentos foram apreendidos durante busca e apreensão vinculada ao inquérito em que Aécio é acusado de receber R$ 2 milhões da J&F.
Para a Procuradoria-Geral da República, a “movimentação financeira realizada entre a Conserva de Estradas e Consórcio Cowan Conserva pode indicar que esta última empresa estava dissimulando doação oficial ao PSDB em 2014 se valendo da primeira”.
Tanto a Conserva Estradas como o Consórcio Cowan Conserva pertencem à família Wanderley. O dono da Wanmix, onde foram encontrados os extratos, é Eduardo Wanderley, também integrante da família. Amigo próximo de Aécio, Eduardo é sobrinho de Saulo Wanderley, dono da Cowan.
A Wanmix, por sua vez, é uma construtora mineira que forneceu concreto para a construção da Cidade Administrativa, obra mais cara da gestão de Aécio no governo de Minas Gerais.
A obra custou R$ 2,1 bilhões e foi citada em delações premiadas como origem de repasses de propina para o tucano. A obra também forneceu concreto para as usinas de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte.
Eduardo Wanderley foi flagrado em conversa com o senador interceptada pela PF no âmbito da Operação Patmos – desdobramento do acordo de colaboração dos executivos do Grupo J&F.
“O Consórcio Cowan Conserva (que repassou o valor de R$ 1,5 milhão para a empresa Conserva Estrada, posteriormente depositado por esta em favor do PSDB) é formado pelas empresas Construtora Cowan e pela Conserva de Estradas. Todas as empresas mencionadas são pertencentes à mesma família”, afirma.
Agência Estado
Por meio de nota, a defesa de Aécio Neves afirmou que desconhece o assunto e que não identificou irregularidade nos dados apresentados,
“uma vez que a doação está devidamente declarada no TSE, como todas as outras doações feitas às campanhas do PSDB”A reportagem da “Agência Estado” entrou em contato com o Consórcio Cowan Conserva, a
construtora Wanmix e a Conserva de Estradas, mas não obteve respostas até a publicação desta matéria.
O PSDB informou que desconhece o assuntoHOJE EM DIA