Apreensão de drogas dispara nas rodovias mineiras; flagrantes de maconha mais que triplicam
Ecstasy, crack, cocaína, LSD, lança-perfume, haxixe e maconha. O menu de drogas apreendidas nas rodovias mineiras não é apenas variado, mas crescente. Nas estradas federais que cortam o Estado, 13 mil quilos de cannabis foram interceptados apenas de janeiro a agosto de 2018, quantidade que supera em 219% o recolhido em todo o ano passado, conforme dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
A explosão de flagrantes está ligada ao tamanho da malha rodoviária, que é a maior do país, transformando Minas em uma das principais rotas para o crime. Especialistas afirmam que a circulação dos entorpecentes é constante, mas as forças de segurança garantem que as ações foram intensificadas.
Substâncias sintéticas também foram encontradas em grandes volumes. Nos oito primeiros meses deste ano foram mais de 18 mil comprimidos de ecstasy descobertos em carregamentos. A maior parte foi encontrada em uma única carga, cujo valor estimado era de R$ 1 milhão. O flagrante foi realizado em abril, na BR-381, no Sul do Estado, e tinha como destino Guarujá, no litoral de São Paulo.
As polícias não informam as estradas com maiores apreensões. Para o chefe de imprensa da PRF em Minas, Aristides Amaral Júnior, o salto nas ocorrências está ligado ao trabalho de inteligência da corporação, principalmente dos grupos que atuam com cães farejadores. Ele diz que ações diárias foram preponderantes uma vez que, nos carros de passeio, as drogas podem estar na lataria, no painel e até nos bancos.
“Hoje, um quilo de pasta base de cocaína pode render de R$ 6 mil a R$ 15 mil, o que torna essa atividade ilícita atraente para muitos criminosos”
Major Santiago
Chefe da Sala de Imprensa da PMMG
“Em carretas, o criminoso tenta esconder o ilícito debaixo de alguma mercadoria. Quando transportada por passageiros, em ônibus, normalmente as pessoas tentam acondicionar em mochilas ou malas”.
Júnior reforça que a extensão da malha contribui. O policial diz ainda que Minas serve como “elo de ligação” e, na maioria das vezes, os bandidos escolhem o sistema rodoviário para levar o material.
Tendência
O cenário é o mesmo nas estradas estaduais. As abordagens feitas pela Polícia Militar conseguiram elevar em 60% as apreensões de cocaína no primeiro semestre, frente ao mesmo período de 2017.
No caso das interceptações de maconha, que envolvem até sementes e pés da planta, o aumento foi de 37%. Da mesma forma, o crack, o haxixe e o ecstasy também registraram crescimento nos flagrantes.
“Apreendemos quase uma tonelada de drogas a cada 15 dias”, afirma o chefe da Sala de Imprensa da PM, major Flávio Santiago. “O Triângulo Mineiro, por exemplo, tem registrado grandes ocorrências do tipo”.
O militar explica que o combate ao narcotráfico exige da corporação intenso trabalho de inteligência nas rodovias. “Mapeamos pontos de passagem e horários, e contamos com o auxílio de cães farejadores. Minas é um ponto de passagem para os litorais, onde grande parte dessa droga é consumida ou enviada para outros países”.
Advogado defende políticas públicas para combate ao crime
O modelo de repressão às drogas adotado no Brasil e a ausência de políticas públicas adequadas são os principais entraves para uma mudança de cenário no país. Quem afirma é o advogado Luiz Carlos Abritta, conselheiro do Instituto de Ciências Penais (ICP).
Dados da Plataforma Brasileira de Políticas de Drogas (PBPD) apontam que o número de presos no país cresceu 81% desde a aprovação, em 2006, de uma lei nacional para combater o uso e o tráfico de entorpecentes. Em 2016, as detenções chegaram a 726 mil. Segundo o levantamento, 40% desse total é de presos provisórios e 26% responde por crimes relacionados a drogas. As mulheres privadas de liberdade são 62%.
Para Luiz Carlos Abritta, que também é membro do Instituto dos Advogados de Minas Gerais (IAMG), o aumento das apreensões nas estradas mineiras são consequência do problema em todo o país. “Por mais que a repressão seja endurecida, nada tem diminuído o consumo e o tráfico. Ao contrário, os volumes recolhidos são mínimos diante de tudo que é comercializado”, analisa.
Enxugar gelo
O especialista afirma, ainda, que o problema dos entorpecentes está diretamente ligado ao abismo social que, segundo ele, é crescente no Brasil. “Quanto maior a exclusão, maior se torna o poder paralelo. Então, apenas apreendemos e não combatemos efetivamente o tráfico. Em outras palavras, enxugamos gelo”.
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