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Em show com clima político, Roger Waters encanta Belo Horizonte

 

Foram 11 músicas e 55 minutos até chegar ao momento decisivo do show: crianças com capuzes tomaram o palco montado no Mineirão para acompanhar “Another Brike in the Wall” e, ao final da música, exibiram camisas com os dizeres “Resist”. A resposta veio na forma de aplausos e vaias (mais aplausos do que vaias) a Roger Waters, cantor inglês de 75 anos e fundador do Pink Floyd – uma das principais bandas de rock progressivo da história.

A partir dali, o grande aparato técnico, que incluiu um telão de 70 metros de largura por 14 de altura, várias torres que distribuíam o som de forma imersiva ao redor do estádio, passou a servir com maior ênfase ao propósito político de “Us + Them”. Desde que a turnê começou, em maio do ano passado, Waters vem alertando sos espectadores para a questão dos direitos humanos e outras bandeiras que sempre defendeu.

Após a execução de “Another Brick in the Wall”, o espetáculo ganhou um intervalo de meia hora, com os telões exibindo vários dizeres, especialmente contra governos que Waters considera totalitários, como o do americano Donald Trump e do russo Vladimir Putin. No Brasil, ele incluiu o candidato a presidência da República Jair Bolsonaro, líder nas pesquisas, o que alvoroçou ainda mais a plateia, que passou a gritar constantemente “Ele Não”.

Reações semelhantes foram vistas em São Paulo e Brasília, por onde Waters passou antes. Salvador, no Nordeste, região em que o candidato Fernando Haddad, do PT, domina, foi uma excecão. A pedido dos produtores, para não gerar brigas na plateia, foi colocada, no segundo show em Sampa, uma tarja sobre o nome de Bolsonaro com os dizeres “ponto de vista censurado”. Em BH, aconteceu o mesmo.

Agradecimento

Sem dizer quase nenhuma palavra para a plateia na primeira parte, contentando-se apenas em levantar o punho em alguns momentos, Waters, que estava com camiseta e calça pretas, falou pela primeira vez ao encerrar a apresentação de Another agradecendo as crianças mineiras que participaram da música.
 
Waters seguiu praticamente o mesmo setlist dos shows anteriores, fundamental num espetáculo tão dependente da tecnologia. O repertório foi quase todo dedicado ao Pink Floyd, sendo aberto com “Breathe”, “One of These Days”, “Time” e “Welcome to the Machine”. Ele ainda mostrou algumas músicas de disco solo mais recente, “Is This the Life We Really Want?” (2017), “Déjà Vu”, “The Last Refugee” e “Picture That”.

Segundo tempo

No segundo momento do show, alarmes e luzes vermelhas tomaram conta do Mineirão, uma introdução a outro clássico do Floyd, “Dogs”. No telão, surgiu a imagem da capa do disco “Animals” (1975), mostrando uma antiga edificação de energia elétrica londrina, enquanto um porco gigante alçou voo diante de um público deslumbrado. No palco, Waters e músicos colocaram máscaras de porco e tomaram champanhe.

Baseado no livro “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, “Animals” estampa os três animais presentes na trama: cães, porcos e ovelhas, sendo o segundo a representação dos políticos corruptos e dos moralistas. Outro disco importante do Pink Floyd,  “The Dark Side of the Moon” (1973) foi referenciado durante a execução de “Brain Damage” e “Eclipse”, com canhões de luz refazendo o famoso prisma da capa.

“Us + Them” se encerrou com Waters tocando violão e cantando a inebriante “Confortably Numb”, acompanhado pelo coro de todo público que, uma hora antes, havia vaiado e aplaudido o cantor. Extremos que só um artista como Waters é capaz de conduzir.

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