Jovem sem vaga: índice oficial de desemprego é maior entre a geração dos 15 aos 24 anos
“Você não tem o perfil que estamos procurando agora. Mas podemos chamá-lo em outra oportunidade.” Pelo menos em quatro ocasiões, este ano, o estudante e técnico em computação, André Stehling, 18 anos, ouviu estas frases. Desempregado desde março, quando a empresa em que trabalhava o dispensou, André já perdeu a conta de quantos currículos distribuiu. Lembra que participou de seis entrevistas, mas sua inexperiência pesou e ele não foi admitido. “A inexperiência pesa principalmente quando se disputa uma vaga com profissionais de 20 ou 21 anos de idade”, lamenta.
André faz parte das estatísticas de desemprego no Brasil, cruéis com os mais jovens, aqueles que oficialmente estão na faixa etária entre 15 e 24 anos. Enquanto a taxa média de desemprego (que engloba todas as idades) bateu na casa dos 13,7% no primeiro trimestre, para a juventude o índice chegou a 28,8% – um recorde.
No entanto, o Brasil não está sozinho. É um fato mundial (veja infográfico), principalmente na Europa com crises econômicas e imigrantes jovens que desembarcam em outros países. “O mercado quer produtividade. Uma vez que a questão salarial não pesa mais – todos estão dispostos a ganhar o que for oferecido – as empresas optam por quem tem mais vivência dentro de uma empresa”, afirma o analista do IBGE, Gustavo Fontes.
Reação
Na última semana, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgou que as startups fizeram com que mais jovens vislumbrem novas oportunidades de trabalho, principalmente no mês de maio. Em tese, as startups demandariam este tipo de mão de obra.
Segundo o Caged, houve mais contratações do que demissões dentro desta faixa de 15 a 24 anos. No entanto, os próprios técnicos descartam mudança neste quadro.
Para somar-se a esse quadro, o fim dos investimentos na educação superior afetará a qualificação profissional, sobretudo dos mais carentes. E menos qualificação significa menos condições de disputa.
Embora não possa ter comprovação estatística, outro fenômeno tem impactado os índices. Com a desaceleração da economia e a renda das famílias em queda, filhos são impelidos a antecipar sua entrada no mercado, a fim de colaborar com o orçamento caseiro. Somente isso, pode inflar as taxas de desemprego.
É o caso de André Stehling que mora com os pais, mas, sem emprego, fica sem desfrutar das baladas de final de semana. Formado em Técnico de Computação, ele também começa a se mexer e faz cursinho para o vestibular na UFMG.
Educação Defasada
O jornalista e futurólogo Carlos Teixeira se preocupa com as novas gerações e os altos índices de desemprego entre as novas gerações, mas não hesita em colocar o dedo na ferida. “A sociedade não se alerta para este problema e o sistema educacional ainda forma mão de obra voltada para um tipo de indústria que não vai existir mais”, afirma. Segundo Teixeira, estamos no limiar da Quarta Revolução Industrial, mas o jovem já chega ao mercado defasado.
Idealizador e gestor do portal Radar do Futuro, empresa especializada em produção e venda de estudos de mercado, com foco em identificação e análise de tendências setoriais e de atividades produtivas, Carlos Teixeira tem estudado alternativas e procura apontar soluções. “A automação aliada à robotização vai eliminar postos de trabalho. A grande vantagem é que é hora de aprimorar o olhar para a Inteligência Artificial, para a Internet das Coisas, para o uso dos drones”, destaca.
Neste sentido, o futurólogo também ilustra o surgimento de uma nova geração Nem-Nem. Se a primeira era “Nem Estuda, Nem trabalha”, a segunda, de acordo com ele é a “Nem é Empregado, Nem Empreendedor”. “E não estamos ensinando isso aos mais jovens”, reforça.
Teixeira não vislumbra uma retomada a curto prazo de um processo de industrialização e crescimento econômico. “O próprio Fórum Econômico Mundial chamou a atenção para uma crise de proporções mundiais. Até 2030 ou 2040, o desemprego vai ser crescente. Precisamos de gente qualificada e que saiba pensar”, filosofa Carlos Teixeira.
Frustração profissional
Consultora de empresas e coaching, Júlia Ramalho Pinto trabalha com pais e filhos às voltas com a escolha de carreiras ou com adultos com insatisfação no trabalho. “O problema é que os jovens já consideram o fato de ingressar numa universidade como uma conquista. E assim não entendem o que estão buscando no mercado de trabalho”.
Para Júlia Ramalho qualificação adequada não é ficar “colecionando curso superior”. Para reforçar sua tese, Júlia Ramalho informa que a evasão na universidade deve estar na casa dos 50%. Resultado: ela lida com inúmeros casos de pessoas que fazem curso superior para depois prestarem um concurso público. “No meio do curso, angustiadas, dizem que não entendem o que estão fazendo da vida”, lamenta.
Por razões éticas, Júlia Ramalho não detalha as situações com as quais costuma lidar. Mas admite que é mais comum do que pareça o caso de adultos, já maduros e profissionais qualificados que passam por crises profundas e manifestam insatisfação no trabalho. Por isso, aconselha: “O que você está buscando?”