Suicídios na UFMG preocupam alunos e coordenação
Nas duas últimas semanas, dois alunos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) cometeram suicídio e uma terceira estudante tentou se matar. Os casos, considerados alarmantes pelo psicólogo Carlos Costa, especialista em psicologia comportamental, estão movimentando as redes sociais ligadas à instituição e preocupam a direção.
O último registro é de quarta-feira. Um estudante de química de 26 anos foi encontrado por colegas no quarto da moradia estudantil na Pampulha. O rapaz foi flagrado, em janeiro, se masturbando na porta de um banheiro feminino da Faculdade de Farmácia. À época, alunas chegaram a fazer um boletim de ocorrência, e o caso ganhou repercussão.
Uma moradora no mesmo prédio e que pediu para não ser identificada afirmou que o jovem mudou de comportamento após o episódio. “Eu não tinha intimidade com ele, mas percebi que ele passou a se isolar cada vez mais. Andava rápido pelos corredores, não falava com ninguém e mantinha o olhar baixo”, disse.
Ainda segundo a garota, o aluno foi muito atacado na universidade depois do episódio. “Eu via o pessoal apontando para ele e o chamando de nomes horríveis”, revela a estudante.
O outro caso ocorreu na semana anterior. Um estudante de artes visuais de 23 anos, que também viveu na moradia universitária, tirou a própria vida em sua terra natal. O rapaz, em depressão, estava licenciado do curso há seis meses. Já a tentativa de suicídio envolveu uma estudante de medicina da universidade, que foi socorrida por amigos. A aluna está recebendo ajuda psicológica.
Incomum
Os casos não passaram despercebidos pela comunidade acadêmica. Nas redes sociais, relatos de um clima de hostilidade na moradia estudantil são comuns e apontados como um dos gatilhos para os suicídios. Há relatos inclusive de que haveria mais casos de suicídio e de tentativas.
“Temos vários problemas a serem discutidos, e o principal deles é que muitos outros alunos passam por dificuldades gigantescas, e que nem sempre são visíveis, e não existe praticamente nada de auxílio dessa instituição (UFMG), e a maioria não sabe onde buscar ajuda”, disse um estudante no Facebook.
De acordo com o psicólogo Carlos Costa, a situação não é normal. “É um cenário preocupante. Apesar de o número de suicídios no mundo todo ter crescido, episódios assim, em pouco tempo e envolvendo universitários, são uma evidência de que há algo errado”, explicou.
UFMG diz que estudante estava sendo acompanhado
O estudante vinha sendo acompanhado por uma assistente social e uma psicóloga da Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump), executora da política de assistência estudantil da Universidade. De acordo com a UFMG, o estudante apresentava quadro de sofrimento mental e estava em tratamento em uma das unidades do Centro de Referência de Saúde Mental (Cersam). O jovem ingressou na UFMG em 2012 e desde então residia na Moradia Universitária. Seu corpo foi encontrado já sem vida pelos colegas por volta das 10h da última quarta-feira (17). Funcionários da Fump se encarregaram de comunicar e amparar os familiares e de tomar as providências necessárias junto às autoridades competentes.
Há mais de um ano a UFMG constrói uma política institucional de saúde mental “da e para a UFMG” como resultado da atuação da Rede de Saúde Mental, que é ligada à pró-reitoria de Extensão. Na avaliação da vice-reitora, Sandra Almeida, a existência da Rede é muito importante para pensar institucionalmente os caminhos possíveis a serem trilhados.
Em Belo Horizonte e em Montes Claros, a Fump oferece a todos os estudantes de graduação, classificados nos níveis I, II e III, acesso à psicoterapia breve individual e em grupo, na sede da Instituição e na Gerência de Montes Claros. Os atendimentos têm foco na psicoterapia de curta duração. Se for necessário ampliar esse tratamento, o estudante será encaminhado à rede pública de saúde ou para clínicas sociais.
No Programa Saúde do Estudante (PSE), em Belo Horizonte, o estudante assistido terá sua primeira consulta médica focada na escuta ativa para criação de um plano terapêutico individualizado. Após o acolhimento inicial o estudante é acompanhando pelo médico da Fump e, se necessário, pelo psicólogo, de acordo com sua necessidade. O estudante poderá também ser encaminhado para atendimento de um especialista na rede do SUS.
Nas dependências da Moradia Universitária em BH os residentes têm acesso ao atendimento psicológico uma vez por semana. O atendimento médico também é realizado uma vez por semana. Já o atendimento com os assistentes sociais acontece de segunda a sexta-feira. O objetivo desses atendimentos é que o morador tenha mais comodidade, não precisando se deslocar para a sede da Fump, pois os serviços prestados na moradia são os mesmos que os da sede.
Alerta
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o suicídio é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. A depressão, ainda conforme a OMS, atinge 5,8% da população brasileira – um total de 11,5 milhões de casos. O Centro de Valorização da Vida (CVV) é um canal de ajuda. O contato é feito pelo número 141 ou pelo site www.cvv.org.br.
Baleia Azul pode ter feito vítima de 13 anos
Uma menina de 13 anos, moradora de Pará de Minas, Centro-Oeste de Minas, pode ter sido mais uma vítima do desafio da Baleia Azul, jogo na internet que estaria induzindo crianças e adolescentes a se mutilarem e a se matarem. Ela foi internada após ingerir uma grande quantidade de medicamentos. A adolescente segue internada em uma unidade de pronto-atendimento municipal, e o estado de saúde dela não foi informado.
De acordo com a Polícia Militar, a menina tinha cortes nos braços – a auto-mutilação seria uma das tarefas do desafio. Além disso, o celular dela foi apreendido e será analisado pela perícia da Polícia Civil. Uma informação já confirmada pelas duas corporações é que o aparelho tinha mensagens ligadas ao jogo. Nos textos, a menina recebia orientações sobre as etapas a serem cumpridas e ordens para que ela apagasse as mensagens assim que as terminasse, em uma tentativa de eliminar prova. (TM)
O TEMPO