GERAL

Testemunhas afirmam que não houve tentativa de sequestro na parada de ônibus

Jamille deu depoimento no programa "Fátima Bernardes" e reforçou que sofreu racismo

O delegado Ailton Pereira, de Lavras, no Campo das Vertentes, ouviu na manhã desta sexta-feira (30) quatro funcionários da parada de ônibus Graal de Perdões para obter mais informações sobre a denúncia que a estudante Jamille Edaes fez de uma suposta tentativa de sequestro e racismo dentro do estabelecimento. De acordo com o delegado, as testemunhas disseram não ter visto nada de anormal na tarde de segunda-feira (26), quando os supostos crimes teriam acontecido.

Foram ouvidos o gerente, o encarregado, a mulher que fica na portaria e o atendente de caixa. “Até mesmo o caixa, que teve uma pequena conversa com a Jamille, disse que viu que ela estava tranquila e sossegada”, afirma o delegado. As imagens das câmeras de segurança do Graal registraram a presença de Jamille e da filha no estabelecimento, mas nenhuma tentativa de sequestro ou tumulto.

Segundo ele, as testemunhas disseram que Jamille não teria ido ao banheiro. “A moça que trabalha ao lado do banheiro feminino disse não viu nada de diferente. Por sinal, ela contou que, para ter acesso ao banheiro com trocador, o cliente deve pedir a chave para um funcionário, o que não aconteceu”, diz o delegado.

A informação sobre o banheiro é relevante, porque a tentativa de sequestro teria acontecido na saída do banheiro do Graal. No boletim de ocorrência, Jamille afirma que teria ido ao banheiro trocar a fralda da filha.

O caso ganhou notoriedade no início da semana, quando Jamille escreveu um relato no Facebook que se tornou um viral, com mais de 125 mil compartilhamentos. No texto, ela afirma que, no banheiro da parada de ônibus em Perdões, uma mulher teria tentado roubar sua filha, de 1 ano e 5 meses. Pessoas teriam presenciado a cena e acreditado que a suposta sequestradora seria a verdadeira mãe da criança. Jamille contou que as pessoas duvidaram de sua condição de mãe porque é negra, enquanto a filha, Manuella, é branca.

Na terça-feira (27), Jamille foi à Delegacia de Betim para registrar um boletim de ocorrência. Uma investigação foi aberta em Lavras, devido à proximidade com Perdões, onde o caso teria acontecido.

Próximos passos

O delegado afirma que vai enviar um ofício à Viação Cometa para solicitar o comparecimento do motorista que estava dirigindo o ônibus em que Jamille embarcou para fazer a viagem entre São Paulo e Belo Horizonte.

Ele também já identificou dois policiais militares que estavam no Graal no mesmo momento em Jamille estava presente no local. As imagens das câmeras mostram que os dois homens, que estavam fardados, estiveram perto dela em vários momentos e não foram abordados por ela. Eles também serão convocados para prestar depoimento.

O delegado afirma ainda que o depoimento de Jamille será colhido na semana que vem, mas não sabe ainda se será em Lavras ou em Betim, onde ela mora e registrou a ocorrência.

A perícia das imagens das câmeras de segurança ainda não foi concluída. O delegado tem até 30 dias para concluir o inquérito.

O advogado de Jamille, Marcelo Machado, foi procurado várias vezes pela reportagem do Hoje em Dia. Ele não foi encontrado no escritório e os funcionários não informaram o número do celular do advogado. Jamille também foi procurada, mas não atendeu ao telefone.

Programa Fátima Bernardes

Jamille e o marido, Roberto Edaes Jr, estiveram na manhã dessa quinta-feira (29) no programa “Fátima Bernardes”, da Globo, para falar do racismo que a moça teria sofrido na parada de ônibus de Perdões. “Já sairam diversas mentiras nas redes sociais, já até criaram perfil falso”, disse Jamille à apresentadora. “Nas redes sociais tem várias postagens que não fui eu que fiz, não se da pra acreditar em tudo que lê”, afirmou em outro momento.

Em vez de falar sobre a suposta sequestradora, presente no relato do Facebook, Jamille fez acusações sobre funcionários da parada de ônibus. “Tudo começou quando uma funcionária pegou a Manuella e afirmou que eu não era a mãe dela. Porque eu não sou a mãe da Manuella? E funcionária responde: Por que a Manuella é branca”, disse no programa. “A funcionária tirou a Manuella da minha mão e entregou pra outra pessoa”, completou.

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