GERAL

Três anos depois de ordem de serviço, duplicação da BR-381 derrapa

Alexandre Guzanshe/EM/D.A PRESS

Era 12 de maio de 2014 quando a então presidente Dilma Rousseff (PT) desembarcou em Ipatinga, no Vale do Aço, levando esperança aos usuários do perigoso trecho de 303 quilômetros da BR-381 rotulado de Rodovia da Morte, de Belo Horizonte a Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Naquela segunda-feira, numa solenidade no estádio Ipatingão, Dilma assinou a ordem de serviço para o início das obras de cinco dos oito lotes que tratam da duplicação da estrada.

Quem esteve presente aplaudiu o discurso da ex-presidente: “Um país não pode esperar 23 anos (à época) para fazer uma rodovia, principalmente uma estrada de tanta importância para o Brasil”. Hoje, exatamente três anos depois, o projeto não caminhou como planejado. Ainda em 2014, a expectativa era de que as primeiras obras fossem entregues em 2016. Alguns túneis foram concluídos, mas ainda não estão “conectados” à malha viária.
Metade dos oito lotes do empreendimento voltou à fase de estudos técnicos, econômicos e ambientais, o que, na prática, significa dizer que estão novamente na etapa anterior à elaboração dos projetos de engenharia e do início das intervenções. Procurado ontem, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) não comentou o assunto até o fechamento desta edição. Em março passado, contudo, informou a expectativa de lançar editais em setembro.
Enquanto a duplicação continua apenas na promessa, vidas são colocadas em risco na Rodovia da Morte. No último balanço disponibilizado ontem pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), referente ao acumulado de janeiro a dezembro de 2016, ocorreram 1.254 acidentes no percurso entre BH e Valadares – média mensal de 104,5 sinistros. “Desse total, 1.484 pessoas ficaram feridas e 90 morreram”, acrescentou Aristides Júnior, inspetor da corporação.
O balanço é inferior ao do acumulado de 2015 (1.510 acidentes, 1.493 feridos e 110 óbitos), mas é bom ressaltar que houve quedas em toda a malha viária federal que corta o estado. “Um dos motivos é a ‘contribuição’ dos motoristas, mais conscientes. Outro é o número menor de feriados prolongados. Levando-se em conta toda a extensão da 381 (o que inclui o trecho de BH à divisa com São Paulo), a rodovia corresponde a 33% dos acidentes que ocorrem em Minas”, disse o inspetor.
A BR-381 tem características macabras: pistas simples sem divisão física entre as direções opostas, asfalto precário em longos trechos, ausência de acostamento em boa parte do caminho e sinalização deficitária. A quantidade de curvas também é outra armadilha enfrentada por motoristas e passageiros. Apenas nos 110 quilômetros entre a capital e João Monlevade, na Região Central, há cerca de 200 curvas, de acordo com a PRF.
A quantidade de curvas se deve ao lucro dos empreiteiros. Na época em que a rodovia foi pavimentada, as empresas ganhavam por quilômetro construído. Dessa forma, era interessante para as companhias traçar caminhos que acompanhavam as curvas de montanhas. Também era mais barato do que abrir túneis e erguer pontes para que o percurso fosse em linha reta.
Na visão de José Aparecido Ribeiro, autor do blog SOS Mobilidade Urbana, do portal Uai, a bancada mineira precisa se empenhar mais em Brasília para que a duplicação seja concluída. “O problema é na desarticulação da bancada mineira e do Ministério dos Transportes. Sinceramente, estou jogando a toalha.”

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