Cada vez mais as redes sociais afetam a saúde mental; veja quando buscar ajuda
“A verdade é que muitas pessoas vivem em função da rede social. Elas vão a um lugar e estão preocupadas em mostrar e deixam de desfrutar para impressionar os outros. Isso é delicadíssimo. Então sugiro que a gente viva e depois publique. A rede social não pode ser prioridade na vida de ninguém”.
A declaração é do jornalista Jorge Nicola, dono de um canal com mais de 1,3 milhão de inscritos no Youtube, e ilustra o impacto das plataformas digitais na vida dos mais de 84% dos lares brasileiros com acesso à internet, segundo dados do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br).
O Brasil é o terceiro país que mais consome redes sociais em todo o mundo, segundo levantamento da agência Comscore. São 156 milhões de brasileiros conectados à rede mundial de computadores. Para ilustrar, são quase 7,5 vezes a população de Minas Gerais ou cerca de 2.328 estádios do Mineirão lotados.
A pesquisa Digital Brazil 2023, aponta que a população brasileira acessa por quase quatro horas por dia as mídias sociais, seja para manter contato com amigos e família (54%), seja para leitura de notícias ou busca por produtos (44,4%).
Tanta exposição à vida digital influencia o comportamento dos usuários e pode afetar também sua saúde mental: ações de cancelamento de pessoas e organizações, divulgação massiva de conteúdo, necessidade de informação em tempo real, maior exposição a críticas e a discursos de ódio são algumas das atividades que passaram a fazer parte do dia a dia na Internet.
O psicólogo clínico Pedro Costa estuda o impacto das plataformas digitais para o público adolescente. Segundo ele, muitas vezes, esses jovens idealizam a vida de celebridades ou influenciadores. “Outra questão observada é que, na maior parte das vezes, as mídias sociais ignoram ou negligenciam emoções aversivas, como tristeza, ansiedade ou medo, criando uma ideia de que esses sentimentos não existem”, pontua.
Contudo, Costa também mostra os benefícios das plataformas digitais para os adolescentes. “Uma rede social pode ser uma ferramenta importante para auxiliar jovens a interagir socialmente, possibilitando que participem de grupos e se comuniquem com mais assertividade, principalmente no ambiente escolar. Temos exemplos, ainda, de adolescentes que utilizam essas mesmas redes como forma de se autorregular ou desenvolver repertório, seja se comunicando com amigos no WhatsApp para confirmar as atividades ministradas numa aula ou estudar para uma prova buscando conteúdo no Youtube”, explica.
Rede de Apoio Psicossocial
A coordenadora de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Taynara de Paula, explica como proceder caso o internauta sinta-se vulnerável e afetado nas mídias sociais ou os pais percebam alterações de comportamento nos filhos.
“Independentemente da origem do sofrimento, é importante buscar ajuda na Unidade Básica de Saúde mais próxima de casa. Caso seja vítima de crime, é fundamental que a pessoa procure a delegacia de crimes virtuais ou o local mais próximo para fazer um boletim de ocorrência”, orienta a coordenadora.
Ela ressalta o papel estratégico da Rede de Apoio Psicossocial. “Além das Unidades Básicas de Saúde, que são a porta de entrada do usuário no Sistema Único de Saúde (SUS), em caso de sofrimento intenso, crise em saúde mental ou ainda possibilidade de que a pessoa ofereça riscos a si ou terceiros, a orientação é procurar o Centro de Apoio Psicossocial (Caps) mais próximo ou uma Unidade de Pronto Atendimento”, explica.
“Os Centro de Apoio Psicossociais (Caps) estão estruturados para atendimento multidisciplinar e de forma territorializada, ou seja, o mais próximo possível do usuário. Nesse sentido, a Secretaria de Estado de Saúde possui política estruturante para acompanhamento em diversos níveis, além do fornecimento de medicamentos, caso necessário”, salienta Taynara de Paula.
Minas Gerais conta com 424 Centros de Atenção Psicossocial, de diversas modalidades, sendo I, II ou III, de acordo com a população do município (até 15 mil, 70 mil ou mais 150 mil habitantes, respectivamente), infanto-juvenil e AD (especialista em atendimento contra o álcool e outras drogas), compostos por equipe multiprofissional, médico-psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional, enfermeiro, entre outros. Além disso, o estado conta também com 606 leitos de saúde mental nos Hospitais Gerais.
Fonte: Hoje em Dia